“ler antes de clicar”

Manter em mente o princípio de que, mesmo não sendo concebido para crianças, pode ser utilizado por elas.

Utilizar o mundo físico como metáfora vai ajudá-las a entender melhor o mundo digital e a criar uma internet mais segura para todos.

O Dia da Internet Segura, celebrado em Fevereiro e apoiado pela Comissão Europeia, é uma iniciativa global promotora da literacia digital e da utilização responsável de tecnologias por crianças, adolescentes e famílias. Todos os anos, governos, ONGs, líderes da indústria, educadores e investigadores identificam desafios, partilham o “estado da arte” e desenvolvem estratégias para um ambiente digital mais seguro. A nossa influência na vida digital das crianças, pode ir muito além dos controlos parentais e dos limites de tempo de ecrã. Temos a oportunidade de estabelecer uma internet segura em casa a qual dá prioridade à experiência das crianças e de sermos os seus principais influenciadores, participando, desde cedo, de forma ativa no seu percurso digital, para uma vivência onlinesegura e positiva.

Como preparar a internet para as crianças?

Desenvolver competências críticas e mecanismos de defesa é essencial para que as crianças vivam bem no mundo digital e físico. Uma internet segura em casa implica estabelecer a comunicação aberta e a orientação sobre as melhores práticas. Mesmo que nem todos sejam especialistas digitais, não estão a iniciar do zero, o conhecimento diário de utilizador serve como base para partilhar conhecimentos, aprimorar a consciência e literacia digital e reforçar laços familiares. 

Alguns tópicos práticos para criar, em casa, uma abordagem centrada na criança, colocando-a no lugar do condutor da sua experiência tecnológica:

Identidade, privacidade e agência digital

É importante ensinar que a identidade digital merece tanto cuidado e consideração quanto a offline. Evitar divulgar informações pessoais, partilhar fotos sem identificar as crianças nem o seu rosto e seguir sempre o princípio de “ler antes de clicar”. Proteger-se não partilhando passwords, atualizando o software regularmente e tendo cautela ao descarregar e carregar ficheiros ou instalar apps.

Medidas de segurança de dados e proteção das crianças

Para uma experiência segura, bloquear serviços de localização, limitar cookies e escolher plataformas seguras com página dedicada à política de proteção das crianças, com os respetivos mecanismos de apoio e contactos de emergência. Verificar as configurações de segurança dos dispositivos da chamada “Internet das Coisas” (IoT), especialmente da Internet dos Brinquedos: peluches, bonecos, jogos, tablets ou outros tipos de brinquedos controlados por uma ligação à Internet. Manter em mente o princípio de que, mesmo não sendo concebido para crianças, pode ser utilizado por elas. 

Cyberbullying e deep fake

Ensinar a distinguir informação e publicidade, alertando que nem tudo é verdadeiro e nem toda a gente é quem diz ser. Reforçar a regra de evitar comunicar com estranhos, como no mundo físico e apoiar, com especial atenção a gestão das amizades online. Lembrar a importância de bloquear dispositivos após o uso e de fazer sempre logout das contas. Explorar questões como manipulação de imagens, contas falsas e fake news. Destacar os perigos do deepfake, a tecnologia de IA que sobrepõe rostos e vozes reais para criar vídeos falsos e que pode envolver figuras públicas, celebridades ou até mesmo manipulação da própria imagem. Incentivar a literacia digital, estimulando a análise crítica e a desconstrução das informações encontradas online

Filtros de conteúdos adequados à idade 

Preferir browsers e motores de busca seguros, feitos para crianças, que restrinjam conteúdos inadequados e, de preferência, sem anúncios. Fazer a curadoria de conteúdos de qualidade e verificar as classificações etárias: 16 anos é a idade mínima para a utilização de redes sociais. (Art. 8 GDPR)

Pegada digital e cidadania digital

Cada ação online deixa uma marca que não se pode apagar. Ao utilizar redes sociais, proteger não apenas a sua identidade, mas principalmente a dos seus filhos e dos seus amigos. As imagens podem revelar informações sensíveis, como por exemplo o nome da escola nos uniformes. Educar sobre a importância do consentimento na captura e uso de imagens e a utilização da imagem própria por si mesmo ou pelos outros. Promover o respeito próprio e pelos outros ajudará as crianças a respeitarem também o espaço dos seus pares. 

Conclusão:

Uma internet centrada nas crianças começa com o empenho de todos e com a tomada de decisões informadas. Criar resiliência digital em casa e de forma atenta, acompanhar o desenvolvimento tecnológico das crianças, com um diálogo aberto e utilizando o mundo físico como metáfora vai ajudá-los a entender melhor o mundo digital e a criar uma internet mais segura para todos.

Este artigo foi publicado no Jornal PÚBLICO.

Links úteis:
https://www.internetsegura.pt/
https://www.youtube.com/@internetseguraPT
https://eurocid.mne.gov.pt/
https://www.betterinternetforkids.eu/
e na nossa página de Recursos