
Com mãos e cabeça (e poucos ecrãs)!
No Clube Criativo da IA (CrIA), as crianças deixam de ser apenas utilizadoras passivas da tecnologia para se tornarem criadoras ativas. São convidadas a explorar e a brincar com o universo tecnológico — em especial com a inteligência artificial (IA) — de forma divertida e envolvente, enquanto desenvolvem o pensamento computacional e dialogam com referências da arte contemporânea.
Acreditamos que a melhor forma de aprender é experimentando. Por isso, as atividades do CrIA seguem uma abordagem hands-on, baseada em metodologias participativas, onde o tempo de ecrã é reduzido ao mínimo e o foco está na experimentação prática, na co-criação com materiais diversos e na colaboração entre pares e com a tecnologia.
De forma ativa, criativa e divertida, as crianças descobrem as tecnologias que moldam e moldaram o nosso presente e desenvolvem competências essenciais como a literacia digital, de media, visual e tecnológica, através do pensamento crítico, da imaginação e da expressão criativa. Brincar com ideias, co-criar com algoritmos e materiais, promovendo uma relação saudável, crítica e informada com a tecnologia.
Assente no aprender através do brincar (play-based learning), na arte, no design thinking e em metodologias de co-criação, o CrIA promove o empoderamento da criança. Num ambiente inclusivo, divertido e estimulante, as crianças exploram conceitos e materiais diversos, desenvolvem diálogo e constroem colaboração, compreendendo melhor o mundo tecnológico que as rodeia.

O que vão aprender e de que forma?
O nosso currículo, criado a partir de um modelo de design piloto baseado em quatro áreas interligadas, foi desenhado para equipar as mentes curiosas com competências essenciais para o futuro.

— Criança, as suas competências, cultura, interesses, necessidades e direitos;
— Sociedade, os temas sociais e acontecimentos;
— Artes, conhecimento, expressão e competências das disciplinas artísticas, bem como estratégias, materiais e técnicas;
— Tecnologia, o seu efeito transformativo nos vários domínios e o seu impacto social e humano;
As Mãos e a Tecnologia: As crianças vão interagir diretamente com ferramentas de IA através de jogos e projetos práticos. Vão treinar modelos de IA e aprender como a tecnologia é construída e como funciona, explorando de forma lúdica a colaboração entre humanos e máquinas. Irão também conhecer as tecnologias analógicas e entender o processo que levou até à tecnologia que usam hoje.
A Cabeça e a Criatividade: O CrIA destaca a IA como uma poderosa ferramenta de co-criação. Através de processos de design, as crianças vão co-criar com algoritmos, entendendo que a IA é um processo lógico e matemático, criado por pessoas e passível de erro. Pretende-se que as crianças ganhem capacidade crítica em relação à tecnologia e que a consigam entender e usar com consciência, propósito e consequência.
A Sociedade e o Mundo: Vamos ajudar as crianças a desenvolver um olhar crítico sobre a tecnologia que as rodeia. De forma simples e acessível vão aprender sobre as implicações éticas da IA generativa, desde os algoritmos de recomendação até aos assistentes de voz e agentes de conversação e companheiros virtuais, mantendo sempre a simplicidade e a identificação.
A Aventura Completa: Quando os quatro elementos (Criança, Tecnologia, Artes e Sociedade) se unem, as crianças terão a oportunidade de construir uma compreensão profunda e crítica da IA, promovendo uma relação saudável, consciente e informada com a tecnologia. O CrIA vai ligar diretamente conceitos de arte e tecnologia com a cultura da criança e abordar questões actuais complexas de forma criativa e adequada às suas idades. O foco não está na ferramenta ou na tecnologia, mas na ação, na co-criação, na comunicação e no pensamento crítico.

Porquê Inteligência Artificial?
Falar de IA está na moda, é tema de conversa em todo o lado. A tecnologia traz inovações incríveis, mas também levanta preocupações legítimas sobre o seu impacto no presente e no futuro, na educação, na criatividade, nos direitos e no mercado de trabalho. Parafraseando o neurologista Alexandre Castro Caldas, temos de aprender a brincar com a tecnologia e ver como a usamos a sério. As crianças devem ser preparadas não apenas para o sucesso académico, mas também para a participação bem informada numa sociedade cada vez mais tecnológica e digitalizada.
“A educação sobre a forma como usamos estas ferramentas e a promoção do facto de que o cérebro precisa de se desenvolver de um modo mais analógico são fundamentais” — Nataliya Kosmyna (investigadora do MIT)
Ao participarem nas nossas atividades, as crianças:
Entendem como funciona a tecnologia: Aprendem como a tecnologia evoluiu até hoje e que a IA é um conjunto de algoritmos criados por pessoas. Constroem um pensamento crítico em relação à tecnologia.
Identificam os seus limites e desenvolvem a empatia: Descobrem que a IA pode ter preconceitos (bias) e como esses erros podem ser corrigidos para uma tecnologia mais inclusiva.
Aprendem a entender a informação falsa: Desenvolvem a habilidade de validar a informação, distinguir desinformação e factos de ficção.
Vão para além do ecrã: Exploram a IA de forma tangível, com as mãos, através de conceitos e usando materiais diversos, enquanto desenvolvem o pensamento computacional. Aprendem a usá-la e a privilegiar uma tecnologia que lhes permita serem ativos.
Desenvolvem o pensamento crítico e interagem em segurança: Questionam, experimentam e colaboram para construir uma relação saudável, segura e informada com a tecnologia.
Transformam-se nos pensadores e criadores do futuro da tecnologia: capazes de usar a tecnologia a seu favor e a favor da sociedade, com responsabilidade e sentido crítico.
O objectivo é que crianças desenvolvam as sete competências essenciais de literacia em IA: pensamento crítico, criatividade, pensamento computacional, autoconsciência e consciência social, colaboração, comunicação e resolução de problemas.

© Clara Vieira Rodrigues

A formadora
Clara Vieira Rodrigues é designer, investigadora e fundadora do projeto D!N (DESIGNEDIN), pioneiro em Design Centrado na Criança.
É docente no ensino superior, tendo já lecionando na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto e actualmente na Universidade do Minho, no Instituto de Educação e na Escola de Arquitetura, Arte e Design, onde trabalha temas como a literacia em IA em contextos educativos, IA e co-criação e IA centrada na criança.

© Clara Vieira Rodrigues
Com uma abordagem inovadora e interdisciplinar, desenvolve programas que cruzam design, criatividade e tecnologia, promovendo o pensamento crítico e a literacia digital com especial enfoque nas crianças e jovens.
Tem particular interesse no co-design com crianças e jovens pois acredita nas suas capacidades para construirem um futuro mais inclusivo, criativo e sustentável. É consultora em design e tecnologia centrada na criança e membro da associação global sem fins lucrativos Designing for Children’s Rights (D4CR) que trabalha os direitos das crianças no desenvolvimento de produtos e serviços.

© Imagem de cortesia
É também colunista de opinião sobre educação e parentalidade tecnológica no jornal PÚBLICO (ler artigo), e participa regularmente em workshops e conferências nacionais e internacionais sobre IA e inovação educativa (ler artigo).

Projeto Piloto no Colégio Alemão do Porto
Na aula aberta do KI-Kreativclub do Colégio Alemão do Porto, partimos de um objeto simples e tangível para as crianças, a banana 🍌, para explorar o diálogo entre arte contemporânea, o conceito de tempo e a tecnologia.
Abordamos o que é a Inteligência Artificial e enumeramos algumas aplicações e tecnologias de IA como a Alexa, a Siri, a Netflix, o Spotify, o Google Maps e, claro, o Chatgpt!
Inspiramo-nos em três obras emblemáticas onde a banana é o elemento central:
Andy Warhol — The Velvet Underground & Nico (1967) Capa de álbum com a indicação “Peel slowly and see”. A banana era um autocolante que ao ser retirado revelava o interior da banana, cor-de-rosa. O gesto trazia a dimensão de efemeridade e deterioração.
Stefan Sagmeister — Banana Wall (2008) Instalação tipografica com 10.000 bananas, dispostas de forma a desenhar uma mensagem. Com o passar dos dias, as bananas amadureciam e apodreciam, e a imagem alterava-se, a obra tornava visível a ação inevitável do tempo sobre a matéria.
Maurizio Cattelan — Comedian (2019) Banana colada na parede com fita adesiva, é considerada uma das obras contemporâneas mais importantes. O título reforça o caráter provocatório, disruptivo e non-sense da obra que gerou bastante debate internacional. Mais do que a banana, o que importa é o que provoca no público. É a arte enquanto comunicação e ação. A sua natureza perecível desperta reflexão sobre valor, efemeridade e conceito. A banana é trocada a cada 3 dias e está em exposição em Serralves.
A partir deste percurso artístico, as crianças foram convidadas a observar e agrupar bananas em diferentes estados de maturação — verdes, amarelas e castanhas — e a fazer registos fotográficos. Agora, na próxima aula, e a partir dessas imagens, irão treinar um modelo de inteligência artificial a identificar o grau de amadurecimento de uma banana. 📷🍌💻

© Clara Vieira Rodrigues
Este exercício tornou um objeto quotidiano, tangível para as crianças, em algo mais, que contem o conceito intangível de tempo. Através da análise das obras de arte, esse conceito foi traduzido em algoritmos, simplificando a tecnologia e estimulando a observação crítica e criativa do mundo, a imaginação, a memória e a compreensão dos processos.
No final houve bananas para todos!! 🍌🍌🍌🍌🍌