“É gentil?” foi o tema deste ano do Dia Internacional do Design, que celebra a importância do design em melhorar o nosso dia-a-dia. Um tributo ao designer humanitário Rob L. Peters, que traz um novo standard para o design – o standard da gentileza – destacando a importância de medir o design pelo seu impacto positivo no mundo, pelo dever de cuidar das pessoas e das suas relações.
Esta abordagem ética e deontológica inspirou-me a escrever sobre uma nova perspectiva e mudança de paradigma no design, o “design gentil” que, associado ao “design circular”, traduzem uma visão do mundo promotora de mudanças políticas, económicas, sociais e ambientais.
Como é que se aplica um design gentil?
O conceito irá além do design centrado no humano e nas suas necessidades, da atenção ao público alvo, abrangendo toda a cadeia de valor, desde a extração das matérias-primas, à fabricação e distribuição até ao ambiente no qual as pessoas envolvidas no seu processo vivem. Um modelo que assegura um futuro responsável e ético, centrado no impacto social e ambiental e não apenas no lucro financeiro.
O “design gentil” é o design a ser design, isto é em harmonia com o seu propósito fundamental, o de resolver problemas e melhorar a vida das pessoas e o mundo. Don Norman, nome incontornável do design e pioneiro do UX design (design de experiência de utilizador) tem vindo a defender um design centrado na humanidade, nos seus direitos e em todo o ecossistema. É uma forma de responder a questões complexas e conceber um futuro mais equitativo que se debruça na criação de sistemas potenciadores de mudanças e de soluções para desafios globais significativos, que afectam toda a vida do nosso planeta. A abordagem incentiva práticas participativas e colaborativas e o impacto alargado do design na sociedade e na criação de um mundo melhor para todos.
O que é o design circular?
No seu mais recente livro “Design for a Better World: Meaningful, Sustainable, Humanity-Centered” (Design para um mundo melhor: significativo, sustentável e centrado na humanidade) Don Norman considera que muitos dos problemas globais atuais são, na verdade, problemas de design que exigem uma abordagem e um pensamento de design sistémico. Enfatiza que não é o avanço tecnológico o centro do problema, mas sim o comportamento humano que moldou as crises globais, sociais, migrações e a crise climática.
Norman propõe a mudança da actual economia linear, criadora de desperdício, para uma economia circular inspirada no princípio circular da natureza e que exige um design também ele circular, promotor da durabilidade, eficácia de processos e da escolha criteriosa de materiais e reutilização de produtos.
O design compreende as pessoas, a tecnologia e os processos. O autor defende que os designers devem ter conhecimentos não apenas técnicos, mas também políticos e de negócio, com vista a redesenharem sistemas e modelos.
O design centrado na humanidade baseia-se em 5 princípios fundamentais:
— Concentrar-se em todo o ecossistema de pessoas, seres vivos e o planeta;— Resolver a raiz dos problemas e não apenas o problema;
— Adotar um ponto de vista sistémico e a longo prazo;
— Testar, iterar e aperfeiçoar continuamente;
— Co-criar com a comunidade, não apenas para ela.
Ainda, Don Norman incentiva os designers a agirem como facilitadores, que capacitam as comunidades a desenvolverem soluções próprias, repensando a forma como os produtos são concebidos e utilizados.
Exemplo disto é a marca de vestuário “Patagonia”, que já deu várias provas de preocupação genuína com o ambiente, com a cadeia de valor, o impacto dos seus produtos e que adopta práticas de reparação e reutilização para prolongar o ciclo de vida dos produtos e reduzir o impacto ambiental.
Concluindo, o “design gentil”, centrado na humanidade, no dever de cuidado e na responsabilidade para com todas as pessoas e o ecossistema, dá-nos uma visão positiva de um mundo mais sustentável, participativo e equitativo – um futuro melhor, alinhado com o melhor interesse das crianças. Dando prioridade à sustentabilidade, inclusão e equidade, em todos os aspectos do design, investimos diretamente no bem-estar e no potencial das próximas gerações, deixando um legado de valores, de “gentileza”.
Ao adotar uma abordagem de design que considera o impacto a longo prazo nas novas e futuras gerações, construímos os alicerces de uma sociedade mais justa e resiliente e uma cultura que nutre e protege, onde aquelas poderão crescer, aprender e evoluir num ambiente mais “gentil” para todos.