A sua missão é desenvolver soluções de Inteligência Artificial numa abordagem “criança primeiro”
O Relatório de Riscos Globais de 2024 do Fórum Económico Mundial identifica a desinformação e a informação falsa como os riscos mais prementes
Há cada vez mais empresas e organizações genuinamente interessadas em questões urgentes da sociedade
Há uns dias fui contactada por uma startup tecnológica, de Londres, para conduzir um workshop, de team building, sobre design centrado na criança. A sua missão é desenvolver soluções de Inteligência Artificial (IA) numa abordagem “criança primeiro”. A empresa oferece terapia assistida, para crianças com dificuldades na linguagem, fala e comunicação, combinada com a prática em casa, e visa democratizar o acesso a tratamentos personalizados, no sistema de saúde de Inglaterra (NHS). Tais aplicações de IA impulsionam o desenvolvimento das crianças, utilizando o reconhecimento de fala, o processamento de linguagem natural, grandes modelos de linguagem, companheiros virtuais (chatbots) e reconhecimento facial e emocional.
Na ambivalência entre estranheza e excitação que a tecnologia de IA ainda nos causa, já facilita a nossa vida diária como quando desbloqueamos os nossos telemóveis com reconhecimento facial ou usamos assistentes virtuais como a Siri, há mais de uma década, os algoritmos sugerem nas redes sociais conteúdo personalizado (grande parte gerado por IA) e as nossas amizades.
Enquanto nos deslocamos, ditamos mensagens ou listas de compras; ouvimos músicas selecionadas por algoritmos, enquanto outros detectam fraude nas nossas contas bancárias; usamos aplicações para monitorizar o trânsito e a nossa casa “inteligente” permite-nos ligar o aquecimento na app partilhada com a família. Alguns de nós até vão dormir com a IA a monitorizar o sono!
Como é que, neste caso, a IA intersecta o design centrado na criança?
1. Personalização: a hiper-personalização da aprendizagem ao estilo e ritmo da criança em atividades e experiências;
2. Companheiros virtuais e gamificação: de forma orientada, motivam e aumentam a autoconfiança, com recurso à narrativa e a significado — as crianças aprendem melhor através da emoção e do jogo;
3. Multi-dimensão: a IA beneficia as crianças em diversas áreas das suas vidas;
4. Co-criação e a interação social: a compreensão e aprendizagem mútua e colaboração educativa humano-robot, onde a criança adquire competências sociais, empatia e inteligência emocional;
5. Inclusividade: a IA tem o potencial de promover a inclusão de crianças com necessidades especiais.
Onde é urgente intervir em relação à IA?
Saúde e educação são duas verticais significativas onde a IA terá um impacto profundo na vida das crianças. Em ambos os sectores, as considerações éticas, de segurança e impacto no uso da IA são cruciais e devem ser meticulosamente trabalhadas por governos e organizações para garantir resultados equitativos e positivos para todas as crianças. O sistema educativo tem de abraçar a IA, enquadrar a tecnologia, incorporando-a de forma a empoderar as crianças e jovens para o futuro, educando para a segurança, literacia e pensamento crítico.
O Relatório de Riscos Globais de 2024 do Fórum Económico Mundial identifica a desinformação e a informação falsa como os riscos mais prementes, e a urgência de equipar as crianças com a habilidade de distinguir factos de ficção.
A democratização da IA é um dos grandes desafios da educação contemporânea. Por um lado, é crucial desenvolver novos currículos que abordem a literacia e a disciplina digital e integrar a IA no ambiente escolar. Por outro lado, é necessário regulamentar e dar particular atenção a questões éticas, de direito e à orientação parental, para mitigar riscos e promover hábitos saudáveis e seguros no uso da tecnologia.
Conclusão:
A interseção entre a IA e o design centrado na criança tem um potencial transformador na vida das crianças, posicionando o design entre a tecnologia e o utilizador, para inventar e reinventar o futuro, testar ideias, e a garantir a melhor estratégia para estabelecer a relação entre o humano e a máquina, em iterações contínuas ao longo do ciclo de vida do produto. O design centrado na criança vai além da funcionalidade, é o compromisso em colocar as necessidades, direitos e experiências das crianças na vanguarda do desenvolvimento tecnológico. Há cada vez mais empresas e organizações genuinamente interessadas em questões urgentes da sociedade e em torná-las significativas para crianças e pais, promovendo mudanças impactantes na sociedade e as bases para um futuro mais sustentável, resiliente e inclusivo.
E, como neste assunto os pais têm tantas ou mais perguntas do que as crianças, fica a sugestão do livro “Olá robot! A inteligência artificial no teu dia a dia”, da Cosicosa, com ilustrações da designer Ana Seixas e explicações simples mas exaustivas, numa análise abrangente da IA.
Este artigo foi publicado no Jornal PÚBLICO.
Links úteis:
Relatório Global Risks 2024
e na nossa página de Recursos
Olá, Robot!
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