O objetivo do design é aumentar as expectativas do que o design pode ser. – Paula Scher

Temos direitos, desenhamos o futuro.

As crianças empoderadas pelo design e pelo activismo, fazem as suas vozes ouvir-se e ecoarem no potencial de uma sociedade melhor.

“O objetivo do design é aumentar as expectativas do que o design pode ser.”, a perspetiva de Paula Scher reflecte a natureza evolutiva do design. À medida que a tecnologia avança e os contextos culturais mudam, o design é desafiado a adaptar-se e a manter-se relevante.

Para além de uma disciplina de resolução de problemas, o design é um meio transformador de partilhar o mundo em que vivemos, levantar novas questões e estar mais perto dos mundos ideais que imaginamos.

O advento de novas ferramentas e tecnologias, incluindo os conteúdos visuais e gráficos sintéticos, gerados por IA, teve, sem dúvida, um impacto significativo nas indústrias criativas. Além disso, a era pós-pandémica provocou mudanças profundas na sociedade. Estas mudanças provocaram uma transição no design, deslocando o foco dos modelos económicos tradicionais para uma abordagem mais orientada para um objetivo. Da forma tradicional como produziamos design, passamos a um design orientado a causas, com o compromisso de facilitar uma mudança social para um futuro mais sustentável.

O ativista de design Alastair Fuad-Luke salienta o potencial dos designers para se tornarem agentes de mudança, defende um design que vá além da estética e considere questões sistémicas mais amplas, explorando o papel do design na abordagem dos desafios globais num “mundo multiverso pós-normal”. Defende uma mudança dos modelos de design tradicionais e lineares para abordagens mais participativas e colaborativas que envolvam os utilizadores e as partes interessadas no processo de design.

O envolvimento criativo entre os artistas e a comunidade através da co-criação pode ser uma forma eficaz de capacitar ambas as partes, reconhecer as necessidades e aspirações das comunidades e relacionar-se com a arte e o design, promovendo acções potenciadoras conjuntas de mudança na sociedade

O design e a arte desempenham um papel significativo no espaço urbano, com impacto no envolvimento da comunidade e na sensibilização. Ao servirem de estímulo criativo, fomentam uma comunidade culturalmente empenhada e promovem simultaneamente o debate sobre o espaço público e o activismo. Esta interação entre o design, a arte e o ambiente urbano estimula o crescimento e cultiva um sentimento de pertença e de ligação no seio da comunidade, encorajando os indivíduos e as instituições a envolverem-se ativamente, a expressarem as suas opiniões e a contribuírem para o desenvolvimento de uma comunidade inclusiva.

O envolvimento de crianças pequenas, especialmente as que estão em idade pré-escolar, e de crianças com deficiência nos processos de tomada de decisão tem sido historicamente limitado. Estes grupos têm sido frequentemente excluídos da participação em projectos que promovem práticas co-participativas e orientadas para a acção. De facto, uma revisão da literatura relatou que as crianças com menos de 7 anos de idade raramente são envolvidas em projectos que envolvem práticas de acção participativa nas cidades (Shamrova & Cummings, 2017). Este facto realça a necessidade de uma maior inclusão destes grupos.

A primeira ideia que tive foi a de sensibilizar as crianças para os seus direitos, envolvendo-as diretamente numa atividade de colaboração. O objectivo era escreverem uma frase, em conjunto, no pavimento, utilizando giz. Para dar vida a este projeto, comecei por identificar as escolas nas imediações do local do evento e contactá-las para as convidar a participar. A Escola Secundária Artística Soares dos Reis foi o ponto de partida para o processo de co-criação e tornou-se parceira do evento. Com o seu talento e experiência em tipografia e design gráfico, os alunos e professores foram os parceiros perfeitos para o projeto. Como estudantes de arte do 10º ao 12º ano, possuíam as competências necessárias para criar uma mensagem tipográfica visualmente marcante e colaboraram também como intervenientes, orientando o processo de design para os co-artistas mais jovens. Com giz branco, o seu desenho estendeu-se por mais de 40 metros, proclamando: “Temos direitos, desenhamos o futuro”.

Apoiado pelo estúdio de design Claan, o evento foi organizado pela associação sem fins lucrativos, Designing for Children’s Rights (D4CR). Realizado no Dia Mundial da Criança, o evento teve como objetivo promover o envolvimento da comunidade e sensibilizar para a importância dos direitos das crianças e o direito ao espaço público, no design. Nas semanas que antecederam o evento, visitámos escolas para apresentar a associação às crianças, discutir os seus direitos, os princípios do guia de design D4CR e convidá-las a participar no projeto de arte pública.

No dia do evento, os jovens artistas, com idades compreendidas entre os 3 e os 12 anos, exprimiram com entusiasmo os seus direitos e a sua criatividade, acrescentando desenhos e mensagens vibrantes à obra de arte colectiva que se espalhou por mais de 500m2. Este evento serviu para celebrar a imaginação, a co-criação e o profundo impacto da arte e do design na sociedade.

O design amplifica o futuro na criação de um mundo onde as possibilidades se expandem, as crianças empoderadas pelo design e pelo activismo, fazem as suas vozes ouvir-se e ecoarem no potencial de uma sociedade melhor.

Todas as imagens © Claan, 2023